segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Geografia Da Religião - Oriente Médio 8ª D


O Oriente Médio
O Oriente Médio é uma das regiões mais fascinantes do planeta. Habitado desde tempos imemoriais, é uma área estratégica do ponto de vista econômico, principalmente por causa do petróleo. É também um importante cenário geopolítico e militar, porque serve de passagem entre a Europa e a Ásia.

Com essas características, o Oriente Médio tornou-se um dos centros nevrálgicos da Guerra Fria. A criação do Estado de Israel, em 1948, agitou um passado milenar, que logo seria submetido ao jogo de xadrez das superpotências.

Em 1979, um fato novo desafiou Washington e Moscou. A revolução xiita do aiatolá Khomeini, no Irã, deu uma demonstração do poder latente da religião islâmica, com milhões e milhões de fiéis no mundo todo. Na verdade, a Guerra Fria no Oriente Médio sempre esteve filtrada pela força do Islã. É o que vamos ver a partir de agora.


Fim da 1ª Guerra Mundial: domínio franco-britânico e sionismo
Os países do Oriente Médio apresentam uma combinação curiosa: seus povos vivem há milênios na região, mas seus Estados e fronteiras são muito recentes. Essa talvez seja a causa de muitos de seus problemas.
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Oriente Médio
Até 1918, a maior parte do Oriente Médio integrava o Império Otomano, derrotado na Primeira Guerra Mundial. Um pouco antes, em 1916, antecipando-se ao declínio dos turcos otomanos, a França e a Grã-Bretanha assinaram o acordo Sykes-Picot, tornando o Oriente Médio uma zona de influência franco-britânica. Ao mesmo tempo, crescia na Europa a força do sionismo, um movimento lançado pelo escritor e jornalista húngaro Theodor Hertzl.
Durante o Primeiro Congresso Sionista, em 1896, na Basiléia, Suíça, Hertzl lançou a campanha pela criação de Israel. A proposta era de retornar à Palestina, região onde havia existido uma nação judaica, o reino de Israel, no início da era cristã. O reino foi destruído pelos romanos. Os judeus, expulsos da região, dispersaram-se pelo mundo dando origem a um fenômeno conhecido como a diáspora judaica.
Mesmo espalhados pelo mundo, os judeus acalentaram, por muitas gerações, o sonho de voltar à chamada "terra prometida". Sonho que ganhou força com o movimento sionista, a partir do século XIX. Os ativistas judeus acreditavam que a reconquista de Jerusalém era um dever sagrado. Adotaram o slogan "uma terra sem povo para um povo sem terra", referindo-se à Palestina.A região, na verdade, era ocupada havia muitos séculos pelos árabes palestinos. Este era só o início do impasse.
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Diáspora Judaica
No final do século XIX , agências sionistas financiadas por grandes banqueiros, como o barão de Rotschild, criaram colônias agrícolas, estimulando a migração judaica para a região da Palestina.

Depois da Primeira Guerra, os assuntos do Oriente Médio passaram a ser decididos oficialmente em Londres e Paris, sem que fossem levadas em conta a história, a vontade, as tradições e a cultura dos povos que viviam na região.


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Árabes reagem ao colonialismo
Com o fim da Primeira Guerra, as regiões da Síria e do Líbano ficaram sob domínio da França. As outras áreas que estavam controladas pelos otomanos, inclusive a Palestina, passaram para as mãos da Grã-Bretanha. O colonialismo da França e da Grã-Bretanha provocou fortes reações entre os árabes. Foi nesse contexto que surgiu no Egito a Irmandade Muçulmana, berço do fundamentalismo islâmico.

Quando surgiu, em 1929, a Irmandade pregava a expulsão dos estrangeiros e a volta aos princípios fundamentais do Corão, o livro sagrado dos muçulmanos. Paralelamente à assistência aos mais pobres, a organização praticava uma guerra de guerrilha contra os ocupantes estrangeiros. O caráter militar da Irmandade foi se acentuando progressivamente.

Enquanto isso, nos anos 20 e 30, a Europa enfrentava uma série de crises nacionais, conflitos de interesses e movimentos revolucionários que iriam resultar na Segunda Guerra Mundial.


O nazismo e a crise na Europa estimulam a migração judaica
Na Alemanha, Hitler capitalizou o descontentamento do seu povo, humilhado pela derrota na Primeira Guerra, e construiu uma monumental máquina bélica e militar. O ditador unificou o país apontando claramente um inimigo, contra o qual todos deveriam se unir. O judeu cosmopolita, segundo ele, era responsável por tudo de mal que havia no mundo. Hitler iniciou, assim, uma forte perseguição aos judeus a partir dos anos 30.

Uma das conseqüências desse novo período da história foi a intensificação da migração judaica para todas as partes do planeta, mas principalmente para a Palestina. Em pouco tempo, triplicou o número de judeus na região, de 10 para 30 por cento da população. A instalação dos novos imigrantes não foi tranqüila. Os confrontos com a população árabe, majoritária, tornaram-se cada vez mais freqüentes
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Menahem Begin
Um dos ativistas judeus dessa época, Menahem Begin, seria eleito décadas depois, nos anos 70, para o cargo de primeiro-ministro de Israel pelo Likud, o partido conservador israelense.


Anos 40: surge o Estado de Israel
Desgastados e impossibilitados de dar uma solução satisfatória para os conflitos, os britânicos decidiram abandonar a Palestina, passando o problema para a ONU. Em 1948, as Nações Unidas aprovaram a partilha da Palestina entre os Estados árabe e judeu. Havia um clima internacional favorável à criação de Israel, por causa do holocausto praticado pelos nazistas. Mas havia também muitos interesses geopolíticos em jogo.

Estava começando o período de tensão entre as superpotências, que iria se estender até o fim dos anos 80. Dessa forma, podemos dizer que os acontecimentos que conduziram à criação de Israel e transformaram o Oriente Médio foram influenciados pela lógica da Guerra Fria.
Durante os anos mais sombrios na Europa, há 60 anos, não havia um exército para defender o povo judeu. Hitler sabia disso e aproveitou. Surgiu o Estado de Israel, que inseriu o judeu de novo no contexto da sociedade, no contexto do mundo. Os princípios da justiça social, dos direitos humanos, os princípios, valores e ideais dos fundadores do Estado de Israel continuam. E são estes os ideais que servem como uma inspiração. Israel, espero, vai voltar a ser uma luz para todos os povos, achando um modus-vivendi pacífico, justo, com os palestinos. Somos todos iguais, somos todos filhos de um único Deus. Portanto, devemos transcender os acordos de paz e transformá-los em relações de paz."
Rabino Henry Sobel
presidente do rabinato da Congregação Israelita Paulista
O dirigente soviético Josef Stalin acreditava que Israel poderia se tornar um país simpático à União Soviética, já que milhares dos imigrantes judeus de nacionalidade russa eram socialistas. Por outro lado, a França, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos viam em Israel um provável representante dos interesses ocidentais, numa região estratégica.
Os palestinos e os Estados árabes não aceitaram a criação do novo país. Eclodiu assim a primeira guerra árabe-israelense. Israel venceu o conflito em 1949. O Estado árabe-palestino desapareceu, dividido entre Israel, Jordânia, que ficou com a Cisjordânia, e o Egito, que ficou com a Faixa de Gaza.
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Divisão da Palestina


A crise do Canal de Suez
Sete anos depois, em 1956, o Oriente Médio seria palco de uma nova guerra. Dessa vez, pela posse do Canal de Suez.
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Gamal Abdel Nasser
O Egito era governado por Gamal Abdel Nasser, um político carismático e nacionalista. Ele fazia parte de um grupo de militares que derrubou a monarquia egípcia em 1952, instituindo um governo favorável a unificação de todos os árabes numa única grande nação. Nasser nacionalizou o Canal, desafiando abertamente britânicos e franceses. Além disso, proibiu o tráfego de navios israelenses, estreitando o fornecimento de petróleo ao Estado judeu.
Em resposta, Israel, França e Grã-Bretanha organizaram uma ação militar conjunta contra Nasser. O chefe de Estado egípcio teria sido derrotado não fosse a intervenção americana e soviética no conflito. Os soviéticos queriam evitar que o Egito fosse novamente controlado pelos europeus aliados dos Estados Unidos. E Washington não estava disposto a brigar com Moscou pelo Canal de Suez. A saída foi um acordo: franceses e britânicos teriam de aceitar a nacionalização do Suez. E os egípcios, em compensação, teriam de garantir a todos o direito de utilizar o Canal.

A Guerra do Suez é um exemplo de que não eram os interesses nacionais que determinavam o curso dos acontecimentos, e sim a lógica da Guerra Fria. No caso do Egito, prevaleceu o jogo de equilíbrio entre Washington e Moscou.
A diáspora palestina e a Al-Fatah
No entanto, havia um fenômeno político e cultural acontecendo no mundo, sem o controle das superpotências: a diáspora palestina, iniciada em 1949. Dezenas de milhares de palestinos se dispersaram pelo Oriente Médio e pelo mundo, vivendo muitas vezes em condições subumanas em campos de refugiados. Os palestinos transformaram-se num povo errante, exatamente como havia acontecido dois mil anos antes com os judeus.

Foi nesse contexto que surgiu a Al-Fatah, em 1959. Com ela, o Oriente Médio mergulhou de vez no pesadelo do terrorismo. Fatah, em árabe, significa "reconquista". O grupo tinha como objetivo a destruição de Israel e a criação de um Estado palestino soberano e independente. Era um entre vários grupos radicais surgidos na região.
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Yasser Arafat (à esquerda)
Entre os fundadores da Al-Fatah estava Yasser Arafat, um jovem engenheiro palestino admirador da política nacionalista de Nasser. Mais tarde ele viria a se tornar o principal líder dos palestinos, à frente da Organização Para a Libertação da Palestina, a OLP. Logo que surgiu, a Al-Fatah passou a praticar uma série de ações guerrilheiras contra alvos militares israelenses e de atentados terroristas contra alvos civis.


Um barril de pólvora
Por um lado, a criação de Israel teve efeitos dramáticos sobre a população palestina. Por outro lado, serviu de instrumento político das ditaduras militares, como na Síria, Líbia e Iraque, e dos regimes com características feudais, como a Arábia Saudita e o Kuwait. Nesses países, os governos autoritários conquistavam o apoio da população fazendo propaganda ideológica contra o Estado de Israel. Era uma forma de desviar a atenção de problemas mais urgentes, como a miséria e a falta de democracia.

Essa propaganda reforçava a idéia lançada por Gamal Abdel Nasser, de que a população árabe só construiria uma grande nação através da destruição de Israel. Esse sentimento coletivo, estimulado pelos governantes, transformou o Oriente Médio num grande barril de pólvora.


Anos 60: surge a OLP
Em maio de 64, durante o 1° Congresso Nacional Palestino, realizado em Jerusalém, surgiu a Organização Para a Libertação da Palestina, OLP. O objetivo era centralizar a liderança de vários grupos clandestinos.
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Rei Hussein na criação da OLP
"Os palestinos eram derrotados porque lhes faltava organização, lhes faltava apoio, seja europeu, seja oriental. Foram sempre apoiados por árabes mais desorganizados do que eles. As Nações Unidas faziam resoluções que não eram cumpridas por Israel, um país que sempre teve apoio dos Estados Unidos e da Inglaterra e até, naquele tempo, da França e da União Soviética. Os palestinos batiam em todas as portas para ter uma ajuda, para poder ficar na Palestina, ou para poder criar seu lar próprio, como Israel. Infelizmente foi negada ajuda de todos os lados. A situação chegou ao cúmulo de, em 1952, as Nações Unidas riscarem a questão palestina de suas resoluções. Ali os palestinos viram que não tinham outra condição a não ser organizar-se bem para ter um lugar no chão. E assim foi criada a OLP, que começou a lutar militarmente contra Israel."
Hasan El-Emleh
presidente da Federação Árabe-Palestina do Brasil


A Guerra dos Seis Dias
O cenário geopolítico do Oriente Médio seria novamente modificado em junho de 67, de forma dramática, com a Guerra dos Seis Dias. Os israelenses, com o auxílio logístico dos Estados Unidos, atacaram de surpresa o Egito, a Síria e a Jordânia, que preparavam uma ofensiva conjunta contra Israel. Em algumas horas, praticamente toda a aviação dos países árabes foi destruída ainda no solo, antes mesmo de ser utilizada. Com total domínio aéreo, em seis dias as forças armadas de Israel saíram amplamente vitoriosas.

Como resultado da Guerra dos Seis Dias, Israel anexou a península do Sinai e a Faixa de Gaza - que pertenciam ao Egito -, a Cisjordânia - inclusive a parte oriental de Jerusalém, que, desde 1948, estava de posse da Jordânia - e as Colinas do Golã, que eram parte integrante da Síria. Com esse desfecho militar, o clima de tensão aumentou em toda a região. A Al-Fatah e outros grupos radicais intensificaram os ataques contra alvos israelenses.
O crescimento da OLP de Arafat
Em 1969, o líder da Fatah, Yasser Arafat, assumiu a direção da OLP. A organização crescia como uma frente de grupos extremistas dedicados à destruição de Israel.

A ascensão de Arafat ao comando da OLP e a radicalização das posições palestinas tiveram uma séria conseqüência. Alguns governos árabes, quando perderam o controle sobre a OLP, passaram a pressionar a organização. A OLP crescia muito, a ponto de tornar-se um Estado dentro de outro Estado. Isso preocupava os governos, que perdiam parte do controle sobre os acontecimentos dentro de suas próprias fronteiras.

Em 1970, essas divergências terminariam em tragédia: o rei Hussein, da Jordânia, ordenou um massacre contra bases da OLP, uma operação que passou à história como Setembro Negro. Numa operação de guerra, tropas do rei Hussein atacaram as bases da OLP na Jordânia.
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Palestinos fogem do Líbano
Milhares de palestinos foram mortos em combates com as forças jordanianas. As lideranças da OLP e os combatentes palestinos transferiram-se para o Líbano. Mais tarde, em 82, expulsa novamente, dessa vez por uma ofensiva militar de Israel, a OLP foi obrigada a instalar sua sede por muitos anos em Tunis, capital da Tunísia.


A Guerra do Yom Kippur
Em 1970, morreu no Egito o presidente Nasser. Seu sucessor, Anuar Sadat, imprimiria uma política mais pragmática. Sua preocupação inicial foi recuperar os territórios perdidos para Israel durante a Guerra dos Seis Dias. Com esse objetivo, o Egito e a Síria arquitetaram uma nova ofensiva militar contra Israel.

O ataque foi em 6 de outubro de 1973, quando os judeus comemoravam o Yom Kippur, ou Dia do Perdão. A Guerra do Yom Kippur começou com uma ampla vantagem para os árabes. A Síria conseguiu recuperar as Colinas do Golã, ao passo que o Egito tomou de volta um trecho da península do Sinai. Os israelenses reverteram a situação com a ajuda dos Estados Unidos. Depois de duas semanas, o exército de Israel já havia retomado as colinas do Golã e do Sinai, com exceção de uma estreita faixa junto à margem oriental do canal de Suez.

O fim da guerra do Yom Kippur trouxe importantes modificações no tabuleiro geopolítico do Oriente Médio. O Egito esfriou suas relações com a União Soviética e partiu para uma aproximação com os norte-americanos. A Síria, ao contrário, aprofundou os laços com Moscou. Desde 1971 o país era governado pelo jovem oficial Hafez al-Assad, um nacionalista de "linha dura" que misturava elementos do socialismo e da ortodoxia islâmica.


Anos 70: a crise do petróleo
Além da Guerra do Yom Kippur, outro fato importante marcaria o Oriente Médio em 1973: a crise do petróleo. Até o começo de 73, os países exportadores de petróleo vendiam o barril do produto por 14 dólares. Com o clima político criado pela derrota na Guerra do Yom Kippur, os países árabes chegaram a cobrar TRINTA E QUATRO dólares pelo barril.

Esse aumento provocou uma comoção mundial, especialmente no Terceiro Mundo, na Europa e no Japão. Os Estados Unidos saíram-se bem na crise: auto-suficientes em petróleo, conseguiram atrair os petrodólares árabes, investidos no mercado norte-americano. Além disso, as multinacionais do petróleo, como a gigante Esso, continuaram levando seus lucros para os Estados Unidos. No plano político, o choque do petróleo mostrou como o mundo era dependente dos países árabes exportadores de petróleo.

Mais do que nunca, Estados Unidos e União Soviética passaram a jogar o jogo da estabilidade regional.


detènte chega ao Oriente Médio
Desde 1972, as superpotências viviam um período de distensão política, a detènte. O presidente norte-americano Richard Nixon e o dirigente soviético Leonid Brejnev haviam assinado um acordo de limitação de armas e estavam procurando o diálogo. Nesse clima cordial, não interessava criar zonas de conflitos numa região explosiva como o Oriente Médio.
Um dos resultados dessa distensão foi a aproximação entre Israel e Egito, a partir de 77. Nos dois anos seguintes, foram assinados os acordos de Camp David, que previam a devolução do Sinai ao Egito. As negociações valeram a Anuar Sadat e Menahem Begin o Nobel da Paz de 1978. O chefe de Estado egípcio não chegou a ver o principal resultado dos seus esforços, que foi a devolução do Sinai, em 1982. Em outubro de 81, Sadat foi morto por extremistas muçulmanos durante uma parada militar no Cairo.
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Assinatura do Acordo de Camp David


A revolução islâmica no Irã: fora da lógica da Guerra Fria
A aproximação entre Israel e Egito parecia abrir as portas para um período de maior estabilidade no Oriente Médio. Apesar disso, o mundo teve pouco tempo para comemorar. Em janeiro de 79, os islâmicos xiitas do Irã derrubaram o governo do xá Reza Pahlevi, aliado dos Estados Unidos, e proclamaram a Revolução Islâmica.

Liderados pelo aiatolá Khomeini, os xiitas diziam que tanto a União Soviética quanto os Estados Unidos eram regidos pelo Grande Satã. Acreditavam na Jihad, uma guerra santa para converter o mundo à fé islâmica. Khomeini instaurou no Oriente Médio um sistema político-religioso que não seguia a lógica da Guerra Fria.

Para Washington e Moscou, era importante impedir a expansão da revolução islâmica. Os Estados Unidos temiam que a difusão do radicalismo iraniano incentivasse um sentimento antiamericano no mundo muçulmano. A União Soviética, por sua vez, acreditava que o crescimento da religião poderia encorajar o separatismo nas repúblicas soviéticas, como o Cazaquistão e o Turcomenistão, com população de maioria muçulmana.


Irã x Iraque
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Combatentes iranianos
Diante disso, as superpotências acompanharam com especial interesse a guerra entre o Irã e o Iraque. Os dois países vinham tendo problemas desde 1975, quando o Irã passou a ter controle de territórios que até então pertenciam ao Iraque. Com a ascensão do aiatolá Khomeini, as divergências aumentaram. O Irã passou a estimular os xiitas iraquianos à rebelião contra o governo de Bagdá. E o Iraque, por seu lado, reacendeu o desejo de ter de volta os antigos territórios.
Oficialmente, o pretexto para a guerra foi o controle sobre as águas do Chatt-el-Arab, canal de acesso do petróleo iraquiano ao Golfo Pérsico. O conflito foi deflagrado em setembro de 1980 e só terminaria em julho de 88, sem vencedores. A guerra, uma das mais cruéis e sangrentas das últimas décadas, deixou mais de um milhão de mortos. Regiões inteiras dos dois países foram devastadas. Nos anos 80, os Estados Unidos mantinham o apoio incondicional a Israel e a amizade de governos árabes conservadores, como a monarquia da Arábia Saudita. A União Soviética, por outro lado, mantinha vínculos com governos nacionalistas, como a Síria, e dava um apoio discreto à OLP.


Glasnost e Oriente Médio
A situação começou a mudar a partir de 1985, quando Mikhail Gorbatchev assumiu o poder na União Soviética. A abertura política, conhecida como glasnost, passou a influenciar os governos do Oriente Médio. Novos ventos, mais favoráveis ao diálogo, começaram a soprar na região. Um dos reflexos dos novos tempos foi o anúncio feito por Yasser Arafat em 1988. Pela primeira vez, um dirigente da OLP se dispôs a negociar a paz com Israel, em troca da devolução dos territórios palestinos ocupados. Ao mesmo tempo, o Estado judeu sofria um grande desgaste internacional, provocado pela Intifada.
A Intifada, que em árabe significa "revolta das pedras", foi um movimento espontâneo de protesto surgido em dezembro de 87 nos territórios palestinos de Gaza e Cisjordânia. Depois do atropelamento de quatro civis palestinos por um caminhão do exército de Israel, um grupo de crianças e jovens, munidos de paus e pedras, atacaram soldados israelenses. Os militares responderam com brutalidade. Nos meses seguintes, ainda em represália, muitas casas de familiares das crianças foram derrubadas. O episódio chamou a atenção da opinião pública.
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Desabrigados palestinos
Com a Intifada, o mundo tomou conhecimento das condições de miséria em que os palestinos viviam. Essa conjuntura política e as pressões internacionais pela paz deram mais força à proposta de Arafat, de pacificação da região em troca dos territórios ocupados.
"Três fatores são fundamentais para explicar os acordos de paz realizados no Oriente Médio. O primeiro é um fator de caráter internacional. O fim da Guerra Fria permitiu que as tensões internacionais fossem reduzidas. O segundo fator é de ordem regional. Desde o início dos anos 80, Israel havia considerado Saddam Hussein e o Iraque os seus principais inimigos. Com o fim da Guerra do Golfo, em 1991, a força de Saddam e do Iraque foi reduzida. Assim, o principal inimigo de Israel estaria neutralizado. O terceiro ponto é de caráter local. Em 1992, o Partido Trabalhista israelense - mais ligado à possibilidade de um relacionamento melhor com os palestinos - chegou ao poder, destronando o Partido Likud, que era contra um contato mais intenso com os palestinos. Portanto, esses três aspectos - internacional, regional e local - foram ffundamentais para que a paz no Oriente Médio pudesse ser alcançada. No entanto, quando, em 1996, Benjamin Netanyahu, representante do Partido Conservador (Likud), chegou ao poder, as condições para a paz ficaram relativamente congeladas."
Nélson Bacic Olic
geógrafo


A Guerra do Golfo
A busca da paz no Oriente Médio ainda enfrentaria um novo obstáculo, com a invasão do Kuwait pelo Iraque, em agosto de 1990. Muito bem servido de armas fornecidas pelas superpotências na década de 80, principalmente da União Soviética, Saddam Hussein sentiu-se forte para tentar anexar o país vizinho. Era o início da Guerra do Golfo. Os Estados Unidos deslocaram para a região 500 mil soldados e lideraram uma força multinacional de 29 países contra Hussein, para forçá-lo a sair do Kuwait. Os ataques contra Bagdá, a capital do Iraque, foram iniciados em janeiro de 91.
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Yitzhak Rabin
Encerrada a guerra, em fevereiro, os Estados Unidos fizeram pressão para que Israel iniciasse o diálogo com a OLP. Finalmente, em setembro de 1993, o premiê israelense Yitzhak Rabin e Yasser Arafat assinaram a paz, em Washington.A Guerra do Golfo havia sido a primeira grande ação militar internacional empreendida de acordo com as novas regras do jogo geopolítico.
O que importava não era mais o equilíbrio de poder entre Washington e Moscou, e sim os interesses das potências ocidentais.Da mesma forma, a atuação da Casa Branca nas negociações de paz foi a primeira grande iniciativa diplomática americana depois do fim da Guerra Fria.


Intransigência, obstáculo à paz
O acordo de paz foi um passo muito importante para a pacificação da região, mas não foi definitivo. O fanatismo religioso, o ódio acumulado durante milhares de anos e os preconceitos de parte a parte permanecem um obstáculo à paz. O assassinato do premiê Yitzhak Rabin por um extremista judeu, em novembro de 95, o recrudescimento das ações terroristas de grupos radicais palestinos e a violência das forças de Israel contra alvos civis são exemplos de que muito há por se fazer pela paz no Oriente Médio.

O fim da Guerra Fria permitiu o desenvolvimento do diálogo, mas a situação permanece explosiva na região. O que mostra que o Oriente Médio continua a ser um enigma para o mundo, e um grande desafio para a busca da paz no século XXI.
Daniel n º 10 8ª D
Derik nº 12 8ª D
José nº 24 8ª D
Lucas n º 29 8ª D

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